13 de nov. de 2007

Obsoleto




Ele vivia em uma casa com quintal. Ele ainda sabia como subir em uma árvore. Ele também se lembrava de como é ficar deitado na grama. As roupas que ele usava haviam sido compradas há, pelo menos, 2 anos. Nenhum dos discos que ele ouvia tinha sido gravado a menos de quinze anos. Os livros que ele lia foram escritos há dois séculos atrás. Ele não sabia qual tinha sido o final da novela. Ele não viu aquele filme que todo mundo comentava. Ele não tinha idéia de como se comportar em uma balada. Ele não entendia como todo mundo conseguia ser tão parecido. Ele não sabia como pegar alguém. Ele gostava de abraçar as pessoas. Ele ainda guardava o travesseiro que usava quando era criança. Ele tinha contato com amigos de infância. Ele sabia o nome de todas as garotas que o haviam beijado durante sua vida. Ele não tinha amigos virtuais. Ele nunca precisou de uma câmera digital. Ele não se dava bem com celulares. Ele tinha vergonha de não dizer “oi”. Ele não gostava de pessoas que esquecem logo. Ele não gostava de coisas que passam logo. Ele não gostava de coisas instantâneas. Tudo o que fica pronto em menos de 3 minutos o incomodava. Ele não sabia ser rápido, tinha problemas com a eficiência. Ele não queria ter pressa. Ele precisava de calma. Ele só queria um pouco mais. Ele não se acostumava a ser descartável. Ele não achava que a vida devia ser assim. Ele era obsoleto. Um homem póstumo ao contrário.