8 de fev. de 2008

Escuridão


Madrugada, a mais escura e impenetrável das noites. Fazia muito frio. Uma neblina espessa e opaca invadia todo o espaço. A luz fina que vinha do céu era coberta pelas nuvens carregadas.
Ele estava só. Caminhava pela noite fria. Era sempre assim. Seu caminho era sempre solitário. Andava sem rumo. O destino não lhe importava mais, sabia apenas que precisava continuar.
Nenhuma direção estava certa, nenhum dos caminhos era conhecido. Era impossível ver qualquer coisa naquela noite. Ele continuava a seguir. Não interessava aonde iria, só queria chegar ao fim.
A neblina úmida e pastosa só aumentava o frio que estava sentindo. Pensava estar em uma espécie de limbo. Apenas os arranhões que o contato com a vegetação lhe causava, faziam-no lembrar-se de que ainda estava vivo.
Os primeiros sinais de cansaço se fizeram notar. Ele parou ofegante agarrado a algo que parecia ser um galho. Os pensamentos que giravam em sua cabeça perturbada rodavam e embaralhavam-se.
Ele se lembrava de coisas, lugares, rostos, sons. Lembrava-se de um passado que queria esquecer. Sentia a dor seca e profunda do passado que voltava à tona. Fechou sofregamente os olhos, como que para espantar seus fantasmas. Abriu-os novamente, assustado. Continuou a andar.
Ele se recusava a fazer as velhas perguntas. Sabia que não haveriam respostas. Ele queria apenas chegar ao fim. Sentia-se sugado para dentro daquela madrugada sombria e sem sentido. Tinha certeza de estar sozinho, mas ouvia sons. Eram agudos e irritantes, invadiam seus ouvidos. Estava certo de que os ouvia. Sons que só podem ser produzidos por pessoas. Mas, ali não haviam pessoas. Ele tremeu.
O que estava a ouvir eram risadas, gargalhadas de um escárnio infernal, dirigidas a ele.
Os sons multiplicavam-se inexplicavelmente. Era como se uma multidão estivesse a sua volta. Uma multidão de malditos. Riam cada vez mais alto. Era um riso sarcástico e cruel.
Sentia a multidão cada vez mais próxima de si. Por vezes, os sons pareciam mesmo estar já dentro de sua cabeça. Ele teve medo. O terror das gargalhadas paralisara-o. Estava perdido. Mas ele não podia parar. Algo mais forte que ele o impelia para frente. Precisava chegar ao fim.
Acelerou o ritmo, estava quase correndo. Sentia-se exausto. A cada passo seu as gargalhadas pareciam aumentar. Estavam por todos os lados. A escuridão não permitia que enxergasse sequer um palmo a sua frente, mas ele sabia que a multidão apontava seus dedos funestos em sua direção. Aquela risada maldita era insuportável.
Ele caiu, novos ferimentos surgiram. Ele não podia parar agora. Levantou-se, correu. As gargalhadas o perseguiam. Não havia como fugir. Estava perdido.
A noite estava muito escura. A madrugada era muito fia. A neblina úmida era muito espessa. Não havia caminhos. Não havia mais nada a fazer. Ele estava exausto, não restava mais força alguma em seu corpo. Já não podia agüentar aqueles sons amaldiçoados. Decidiu entregar-se à multidão maldita.Ele parou, abriu seus braços e lançou um olhar suplicante na direção do céu negro. A multidão o alcançou. As gargalhadas se tornaram ensurdecedoras. Ele estava perdido. A dor mas profunda e lancinante apossou-se dele. Foi preciso apenas alguns segundos para que a multidão o devorasse.As gargalhadas cessaram. A noite escura e fria retornou ao seu silencia de morte. Ele, finalmente, conseguiu encontra seu fim.

7 comentários:

r a f a disse...

bem escrito. bacana. haja criatividade pra tanto conto!

Jana Cambuí disse...

Interessante o texto. No fundo, há a análise da mente humana.

Mai Amorim disse...

Huhuhu adoro tuas descrições, fazem com que a gente consiga entrar no clima do conto, consiga sentir o que se passa.
Madrugadas escuras, frias e nebulosas sempre exerceram um estranho fascínio sobre mim.

Desespero.. insanidade... angústia, dá pra sentir tudo isso aí.

;*

Marcus Vinicius disse...

Cara sinistro muito bom!
isso mi deu arrepios!
hehe
flw um abraço!
Obs: teu blog muito bom!vc escreve muito bem!

krazy disse...

muito maneiro cara
parece com os meus sonhos sombrios

mas eu n tive paciencia p/ ler tudo. me diz: o q aconteceu no final?

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

agora eu acabei de ler tudo
mto violento kara
mas onde tirou inspiraçao p/ a historia?
foi num jardim de infancia?