1 de set. de 2007

Derrelição


Eterno infinito imutável imaterial.
Nós O sabemos definir tão bem. Perdemos tanto tempo com isso. Pensa-se tanto no Outro e acaba-se esquecendo de si mesmo. Porque não nos definimos a nós?
Nós?
O que somos nós?
Etéreos não-eternos, eternamente incompletos. Passageiros. Perdidos em busca de qualquer coisa. Coisa alguma que muda a cada instante.
Nós que somos sobre tudo matéria. Temos dificuldades profundas com o abstrato. Os sentidos (esses nossos parcos sentidos...) é que nos guiam.
Precisamos da matéria. Queremos sempre ter as mãos cheias dela. Tocar fundo com a ponta macia dos dedos o âmago da matéria. A úmida esponjosa, essa suculenta carne jovem. A matéria.
Sedutora. Hergonômica, táctil. Sensual pela própria definição. A matéria que nos rodeia, que nos envolve, que nos abraça forte, é finita. Acaba.
A matéria se desfaz.
O que nos é dado conhecer (o vasto vazio mundo da matéria), está vinculado a termo.
Apodrece.
Todos conhecemos a podridão.
Todos pressentimos os vermes famintos. E, não.
Não é apenas isso.[?] Não aceitamos que seja.
A centelha do infinito não nos permite aceitar.
A centelha do infinito[!]. O imaterial. A dúvida. A intuição da não-matéria. A sobre-matéria. O talvez. O sempre. O será?.
A presente intuição da não-substância original. O desejo do retorno. A ânsia pela liberdade. O desconforto do not belonging. O deslocamento. A distopia.
A intuição do infinito parece ser a explicação.
[O meu reino não é deste mundo]
O vazio.
O desespero.
Há entre nós a premonição da natureza abstrata da não-matéria. Há a intuição do eterno imutável. Não é possível negar.
Mas, acima de tudo, há a contingência da matéria.
A sedutora, velha amiga, aconchegante como sexo de moça nova. Armadilha. Jaula. A matéria que não nos deixa escapar.
A contingência e o desejo de liberdade se digladiam o tempo inteiro em nosso corpo.
A disputa é intensa.
A matéria contra seu inverso negativo. A matéria disforme, uniformemente asquerosa X A abstração absoluta, o sublime.
Esse é um de nossos mais fortes nós.
A carcaça pressente o sublime e, mais que isso, quer ser o sublime. E, não.
Não.
Carcaças são só carcaças.
A matéria cadáver adiado sempre vence.
Sempre. A todos nós. [?]
E, enquanto esperamos a liberdade, permanece o abandono. O desamparo. A vida que não tem cura.
A intuição do eterno imutável não resolve o problema. Pelo contrário, acentua o problema.
Por quê?
Porque intuir não é saber.
A intuição é abstrata e, como sabemos, não somos muito afeitos a abstrações.
A sapiência é concreta. Precisa ser concreta, surge de fatos.
Só é possível a cognição exauriente de fatos.
Fatos pressupõem matéria.
E a matéria destina-se à putrefação, mesmo que postergada.
A intuição, essa intuição, presta-se mais ao desserviço.
Mas, nada é por acaso.
ELE sabe muito bem o que faz.
É exatamente isso o que quer fazer.
A derrelição é proposital.
Se pudesse apostar, apostaria que ELE nos assiste e ri.
Ri-se muito, de fato.
Enquanto isso, choramos.
Acompanhados somente de nossa companheira fiel.
A matéria.
Até que a morte nos separe.

2 comentários:

Unknown disse...

matéria tão limitada né =o até broxa a vida =____=
E tosco-nada! amei *___* aaamei! mesmo /o/
*esperando pelo proximo texto foda*
;******************

Unknown disse...

Meu deus...
:S